QUELHAS, Álvaro de Azevedo; NOZAKI, Hajime Takeuchi. A formação do professor de Educação Física e as novas diretrizes curriculares em frente aos avanços do capital. Motrivivência Ano XVIII, Nº26, P. 69-87, Jun./2006.
O presente artigo relata como eixo principal de seu desenvolvimento, segundo os autores, três partes fundamentadas na qual a obra se divide: o processo histórico da Educação Física no Brasil; a contenda relacionada à fragmentação da Educação Física e a idéia para uma formação ampliada do professor na qual lute contra uma perspectiva hegemônica.
Diante disso, QUELHAS e NOZAKI expõem que em 1851 houve a necessidade de implantar a Ed. Física no ensino primário, como forma de ginástica, por causa de uma reforma de ensino, sendo que um pouco mais tarde ingressa no âmbito social o paradigma da eugenia, e que tinha na Educação Física (ginástica) e nos esportes, conteúdos necessários para o desenvolvimento desse processo. A formação nessa área veio primeiramente embasada nas escolas militares e principalmente no modelo francês como método oficial, onde quem atuava eram militares em meio escolar cívico, que se deu no estado novo com a criação do ENEFED com o intuito de melhorar a raça e formar um futuro soldado, e no âmbito da academia militar. A formação era deficiente, pois, o futuro licenciado precisava de 2 anos a menos em relação às outras áreas de formação, sem levar em conta que não existia contato com conteúdos da faculdade e Filosofia. Nos anos 70 houve uma mudança curricular na formação, onde pôde-se observar a a introdução da Didática, Psicologia, Estagio supervisionado, etc., Os autores também observam o período de esportivização da Educação Física dos anos 50 aos anos 80, onde o pais vivia em plena ditadura militar e onde o objetivo da educação física (esporte) era mascarar a realidade social atuante.
A partir dos anos 80 houve uma intensificação da proliferação massiva de academias nos EUA e consequentemente no Brasil, onde surge o paradigma da busca pela estética ou modelo ideal de corpo. Com isso acorre um processo de desobrigação do governo no que diz respeito às políticas públicas de saúde e uma grande lacuna deixada para a iniciativa privada tomar de conta, então a Educação Física é dividida para atender os grupos privatistas e, em confronto, para atender à todas as classes como uma produção histórica da humanidade. Portanto, essa idéia fragmentada deu inicio a um novo tipo de formação na área,o bacharelado , onde o campo não escolar era o campo de atuação (principalmente academias), aí dando surgimento à discussões por parte dos licenciados embasadas na formação profissional, sendo que no inicio desse período não houve proliferação dos cursos para bacharéis, pois havia uma falta de fundamentação teórica. Os autores ainda discutem a resolução Nº 003/87, que trouxe avanços contundentes para a Educação Física, contudo para suprir as “transformações ocorridas no mercado de trabalho “(p. 76) houve uma predominância na procura pelas áreas não escolares. Tendo em pauta a reforma política da década de 90, causada pela crise do capitalismo, a educação respirou novos ares, onde os níveis variados de ensino tinham o intuito de formar o trabalhador de novo tipo capaz de amenizar tal crise. Isso se deu a partir da criação de leis e diretrizes curriculares por parte do governo FHC. Sendo que o ensino superior ganha destaque pelo fato de formar pessoas para o mercado de trabalho, sofrendo uma grande influência em sua reforma, do BIRD (Banco Mundial) com a aprovação de leis e programas de incentivo como o PROUNI.
Segundo o autor, partindo dessa reforma, a Educação Física sofreu um grande embate no que se refere a formação profissional, havendo uma fragmentação nessa formação entre o bacharelado, que foi considerado uma grande conquista para alguns a intervenção do profissional de educação Física no âmbito não escolar, e a licenciatura. Houve também a criação do CONFEF, que tinha e tem o papel de fiscalizar a intervenção de tais graduados no âmbito não-escolar. Então o autor expressa sua opinião sobre tal debate colocando que: isso fragmenta o conhecimento a ser passado; a formação não dará conta de formar o profissional da área não escolar; o profissional tem múltiplas áreas à serem trabalhadas, e por isso deve ser polivalente, contudo tal reforma fragmenta o campo de atuação; critica uma formação “que se situe na lógica da competição e busca de reservas do trabalho precário, em confronto com outros trabalhadores” (p.ª 79); o posicionamento das IES (Instituições de Ensino Superior) na implementação dos dois tipos de formação e das respectivas habilitações.
Então o autor propõe uma formação em educação física que não reproduza a sociedade capitalista atual que crie uma novo tipo de trabalhador voltados para a defesa dos interesses da classe dominante, e sim a formação – licenciatura ampliada – de um trabalhador capaz de interferir e interatuar na superação da sociedade atual, alem de poder atuar nos múltiplos âmbitos educacionais, seja os não escolares ou os escolares, dando ênfase à onilateralidade marxista que se contrapõe à divisão social do trabalho, se desapropriando da lógica do capital e destaca o politecnismo integral do profissional voltando-se contra tal fragmentação.
Segundo o autor, Antonio Gramsci articula idéias que dão suporte á não reprodução da classe burguesa e à superação desta, propondo a escola unitária que defende a formação cultural e continuada, a contraposição frente a divisão social do trabalho, dando ao aluno autonomia em pensar, agir, criticamente sobre tal sociedade, ou seja, uma educação voltada para a classe majoritária. Alem disso este diz que a formação ampliada na área propõe o desenvolvimento de novas políticas educacionais e se contraria à educação por vocações. A Educação Física deve ter uma formação politécnica de perspectiva histórico-crítica, onde as disciplinas não se explicam por si mesmas, que supera a fragmentação da área. Ponto fundante para aplicação de tal educação, segundo o autor e embasado no coletivo de autores (1992), é a dialética marxista, que não se contem em refletir, e sim em transformar a sociedade, embasado em pressupostos da cultura corporal.
QUELHAS e NOZAKI colocam características que o profissional licenciado deve adquirir durante a formação: multidisciplinaridade e formação omnilateral; práxis social; gestão democrática e não autoritária; apropriação da cultura corporal como método desalienante e emancipatório; pedagogia omnilateral e coletivo-solidária; formação continuada; avaliação permanente das práticas curriculares. Sendo que os princípios da licenciatura ampliada são os seguintes: identidade do professor; compromisso social de superação; formação concreta e constante; ensino, pesquisa e extensão; indisociabilidade práxis; coletividade; ampliação de conhecimento voltada à perspectiva de superação; avaliação permanente; formação continuada; autonomia institucional; gestão democrática; condições adequadas de trabalho, financiamento público para ensino-pesquisa público. Sendo tudo voltado à pressupostos da cultura corporal.
Por fim, os autores colocam que houve um grande desenvolvimento atualmente da perspectiva marxista no que se refere à luta contra a classe burguesa, que fragmentou o curso de Educação Física graças a seus interesses corporativistas e que busca na construção do trabalhador do novo tipo um remédio para a crise do capital. Com a necessidade de superação desta sociedade cabe ao professor utilizar na onilateralidade e na politecnia métodos revolucionários aplicáveis contra a divisão social do trabalho e consequentemente contra tal sociedade.
Diante da proposta de problematização dos autores, entendo que tal trabalho foi muito bem desenvolvido, sendo colocados aspectos históricos que contribuíram para o atual momento da Educação Física, as criticas dos autores frente às contradições desenvolvidas historicamente e uma fonte depositável de propostas nas quais podem ajudar a superar os paradigmas explícitos no texto. Percebo que são autores materialistas históricos, e que usam da dialética um instrumento de transformação, por eles acharem soluções para seu problemas. Esse é um texto pequeno, contudo, de um nível informativo exorbitante e que avança, e amplia conhecimentos sobre a educações física e a emancipação da classe trabalhadora sobre a sociedade do capital.
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